quinta-feira, 22 de julho de 2010

Educação Patrimonial - Entrevista

Patrícia Falco Genovez possui doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense
(2003), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1996) e graduação em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1993). Atualmente é professora titular da Universidade Vale do Rio Doce. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Cultural e História Política, atuando principalmente nos seguintes temas: história de Minas Gerais, relações de poder, liturgias do poder, análise de redes sociais, memória e territorialidades.

Jornal Cidade Futuro: Ao abrirmos espaço para o tema “Educação Patrimonial” estamos proporcionando à sociedade um convite à reflexão quanto à responsabilidade que assumimos enquanto profissionais e cidadãos no processo de fortalecimento e revitalização de nossa cultura. Porém, a temática ainda é pouco discutida tanto em âmbito municipal quanto nacional. Por que existe essa deficiência quanto ao debate do tema?

Patrícia Genovez: Acredito que a deficiência ocorra em função de uma perspectiva limitada de alguns conceitos que sustentam o tema. Dentre os quais destacamos: educação, patrimônio e outros transversais, como história e cultura. Em outras palavras, ainda convivemos com um conceito estreito sobre educação e sobre patrimônio. O primeiro, a educação, nem mesmo é percebido como um processo de formação, mas apenas como informação que deve ser transmitida de forma avassaladora por meio de conteúdos intermináveis requeridos pelos programas de cada disciplina. Sem a sua característica essencial, a educação se torna restrita ao ambiente escolar. Com esse tipo de educação, não podemos esperar maior amplitude nos demais conceitos expostos anteriormente.

JCF:
Através de ações voltadas à preservação e compreensão do Patrimônio Cultural, a Educação Patrimonial torna-se um veículo de aproximação, conhecimento, integração e aprendizagem. O que falta para que essa temática seja incluída nos conteúdos ensinados nas escolas?

PG: Do ponto de vista legal, não falta nada. Os Parâmetros Curriculares Nacionais tanto de ensino fundamental quanto do ensino médio, preveem em seus objetivos gerais o conhecimento e a valorização do patrimônio sociocultural brasileiro. Os conteúdos possuem uma vinculação clara com a história local, o que nos remete novamente aos procedimentos da Educação Patrimonial que implicam na aproximação entre a escola e a comunidade. Isso deve ocorrer num processo que integra conhecimento e aprendizagem de forma interativa. No meu ponto de vista, falta exatamente mudar a perspectiva do que seja, afinal, educação.

JCF: Quais são as principais etapas para que seja realizado um projeto de Educação Patrimonial no cenário municipal?

PG: Quando falamos em projetos é bom ressaltar que se deve seguir uma formatação específica de acordo com o Insituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG), assim como um roteiro que padroniza o relatório das atividades desenvolvidas. Trata-se de uma atividade que merece os mesmos rigores de qualquer projeto de pesquisa submetido a órgão de fomento. Em suas etapas, o projeto deve incluir a especificação conceitual com a qual se irá trabalhar e o contexto histórico regional. O projeto deve enfocar de forma minuciosa a metodologia que o norteará, especificando para cada atividade a técnica e o método que auxiliarão em sua execução. Portanto, não só os projetos de Educação Patrimonial como as demais atividades que envolvam o Patrimônio Cultural, devem conter uma equipe capacitada e multidisciplinar, cuja importância de historiadores, antropólogos e arquitetos é fundamental.

JCF: O Núcleo Cidade Futuro desenvolve em Governador Valadares o projeto Ponto de Cultura BEABÁ AUDIOVISUAL. As oficinas têm como principal objetivo engajar os jovens em atividades ligadas ao registro da memória social e a formação audiovisual. Existe algum outro projeto na cidade que tenha como foco a Educação Patrimonial?

PG: Não tenho conhecimento de projetos, mais de atividades pontuais. É importante lembrar que essas atividades acabam perdendo relevância quando não acontecem em sintonia com os vários setores da sociedade. O esforço do Cidade Futuro deve seguir nesse sentido, enquanto projeto, congregando vários setores da sociedade e chamando ao debate os vários protagonistas sociais. É importante ressaltar que a responsabilidade sobre o patrimônio cultural não deve ser depositado em apenas um grupo ou órgão, ela deve ser entendida como uma responsabilidade de cada um de nós.

JCF: Quais os bons frutos que um trabalho de Educação Patrimonial bem executado pode colher?
PG: Tive a oportunidade de realizar uma atividade de educação patrimonial que teve como objetivo apenas operacionalizar alguns conceitos e técnicas de pesquisa entre os alunos do curso de História da Univale. A atividade, que a uma primeira vista era bastante simples, coletar informações sobre o bairro onde cada aluno residia, acabou se transformando numa importante ferramenta de identidade e auto-estima. Tivemos relatos emocionados de vários alunos que, ao longo das entrevistas com antigos moradores, passaram a valorizar o próprio bairro e a perceber a cidade sob uma outra perspectiva. Nesse sentido, seria importante firmar parcerias para que as atividades pontuais viessem a formar, de fato, um projeto que pudesse ser executado em todas as escolas da rede pública e privada.

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